sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Liberais e o jogo de soma zero



Os liberais são contra a distribuição de renda alegando que a economia não é um jogo de soma zero, que a pessoa rica é um investidor, que sua fortuna ajuda a gerar mais fortuna para os menos favorecidos. Ou seja, a sua riqueza gera mais riqueza porque ele investe. Nenhuma distribuição seria necessária, já que o mercado sabe distribuir melhor que qualquer governante.
Ocorre que existem muitas formas de investir:
Investe-se consumindo, produzindo, comprando títulos e especulando.
As diferentes formas de investir podem ou não gerar mais riqueza e aí é que está a questão.
Os investidores o são praticamente em função de um único quesito: lucro.
Por isso, pode-se falar que alguns investimentos são mais ou menos benéficos para a humanidade exatamente em razão da capacidade produção de mais riqueza.
O lucro nem sempre é fruto da produção de riqueza pode ser apenas a mera movimentação de capital. De um produtor ou investidor para outro investidor. Estão aumentando no brasil a quantidade de empresários que perdem o interesse nas suas empresas e transferem cada vez mais do seu capital para a ciranda financeira baseada em títulos do tesouro brasileiro, que se constituem, pelo menos por emquanto, em investimento sem risco, lucrativo, e sem trabalho.
Deve-se considerar a proporção de riqueza produzida que não vira mero acúmulo ou transferência de riqueza com capital improdutivo e inútil ou até mesmo prejudicial à coletividade. De forma que toda a civilização deveria adotar mecanismos de desestímulo a essas práticas danosas, como impostos, taxas e barreiras jurídicas, bem como critérios bem definidos para regular o que deve se estimulado e emcorajado.
Para o financiamento do estado no entanto, o jogo de soma zero é levado em alta conta. Cada centavo que o estado movimenta "deveria" ser canalizado para o mercado, sejam quais forem as regras não escritas em vigor sob pena de "causar distorções" à livre iniciativa. Porque os homens eleitos pelo povo iriam usar os recursos do estado em benefício próprio. Os paises democráticos recebem o escrutínio popular para administrar o interesse público, assim, o gestor do estado tem a obrigação de transformar os impostos arrecadados em facilidades para os que querem produzir, e se o mercado não tem tal ambiente, o governo deve fazer tal ambiente surgir através do investimento e desencorajar toda forma de movimentação de capital prejudicial à coletividade.
Para os liberais não existe a opção do estado indutor do desenvolvimento, é sempre o empreendedor privado com consciência a promover o bem estar universal. E o consumidor, a "alma iluminada que nunca se deixa iludibriar", a manter o empreendedor "na linha". Interessante como essa idéia não costuma ser posta em paralelo com a imagem do eleitor, para os liberais o eleitor é incapaz de fazer uma escolha sensata, e fica onisciente magicamente ao julgar os itens do livre mercado.
A economia não é um jogo de soma zero nem no caso de se distribuir a riqueza, nem ao induzir o crescimento via investimento público. Sim, o dinheiro do governo pode também ser aplicado para gerar mais riqueza. Mas o ultra-liberalismo é capaz de capaz de jogar toda a economia global contra o muro de concreto da escassêz e selvageria que se avizinha que os seus defensores se recusam a ver.
Como se não fosse trágica o suficiente a mera aplicação do liberalismo econômico já proscrito pela DSI, os postulados liberais são aplicados por governos irresponsáveis ao redor do mundo de forma distorcida e superficial com o intuito de "raspar" os que resta dos bens das nações diretamente para as mãos de empresários predadores com um volume vergonhoso de propina na contrapartida.
Assim, além de jogar a nação em um jogo economico injusto, ainda se promove da maneira mais vil possível uma casta de predadores selvagens para jogar esse jogo.
No final, a tão falada liberdade econômica é tão utópica como qualquer ideologia totalitária.