Valorizando a informação.
"O conflito de classes, em escala
global, começa a acontecer nas redes, porque existe uma política de
controle e hierarquização da informação nas redes, e, do outro lado, há
gente trabalhando para a desobstrução dos canais. E isso é democracia,
porque se você começa a fazer todo o fluxo de informação passar, as
pessoas ficam sabendo o que os de cima não querem que elas saibam. É o
que está acontecendo com o Snowden de novo. Isso a própria tecnologia
permite como a lógica de funcionamento em rede auxilia na distribuição
da informação. O que as pessoas não entendem de jeito nenhum é que a
informação é a diferença que faz a diferença, e também é o valor do
capitalismo contemporâneo.
A informação se tornou valor, e isso
começou na década de 1970, a questão se colocou: “Como ganhar dinheiro
com a informação?”. Porque a informação não tinha preço. Foi reelaborada
e inventada uma coisa que se chama direito de propriedade intelectual,
que não é só uma extensão do direito autoral e do direito de invenção da
propriedade industrial, é muito mais do que isso. É o que alguns
especialistas chamam de “a última enclosure”, o último cercado que
começou na Inglaterra com o começo do capitalismo, quando se cercou a
terra. Agora vamos criar um que vai cercar essa unidade mínima que é a
diferença que faz a diferença, para garantir a exploração desse valor
como unidade mínima, e, ao mesmo tempo, com um alcance global. A lógica
das redes, de seu funcionamento e aperfeiçoamento, é colaborativa, e,
sendo colaborativa, ela escapa, é da sua própria lógica que as
informações circulem. Se não circulam é porque começam a colocar
gargalos para cercar e fazer a captura dentro do sistema que permite que
isso vire uma propriedade. A esquerda ainda não entendeu o alcance que
isso tem como luta política. Se pegarmos, por exemplo, esse sistema
anglo-americano de espionagem, porque são americanos, mas os ingleses
estão acoplados, como eles chamam as primeiras operações por meio desses
sistemas? Vão dar os nomes das primeiras batalhas imperialistas, tanto
dos EUA quanto da Inglaterra. Por quê? Porque começou, em outro plano,
um outro tipo de imperialismo, e se você não estiver preparado para
lutar neste outro plano, como vai perceber o que está em jogo? Existe
uma guerra, hoje, no mundo digital, mas é real também porque a dimensão
virtual da realidade é tão real quanto a física. Mas a ficha ainda não
caiu que esse conflito está lá, e é claro que isso precisa ser
entendido, se tornar uma questão política de ponta. Ainda não vi as
pessoas se mobilizando para defender o marco regulatório da internet;
inclusive, se a gente fizer isso, ou vier a fazer num futuro próximo,
vamos ser modelo para outros países que estão com o mesmo problema. Mas
precisamos fazer.
Não se faz democracia sem informação, e a
maneira de fazer democracia atualmente é expondo, para os ricos, aquilo
que eles fazem para o resto da população. Se eles podem fazer tudo e
levantar tudo sobre a população, e estão o tempo inteiro se protegendo e
protegendo essa informação, sobretudo para destruir aquilo que não deve
ser conhecido, os caras que aparecem, de certa maneira, e levantam esse
movimento, mostram como essa lógica de captura funciona, estão
trabalhando para uma desobstrução de canais, algo absolutamente
fundamental. Só pela desobstrução de canais e por uma luta entendendo o
que é a propriedade intelectual e o que é fechar a informação para uma
apropriação é que você vai poder lutar no futuro, porque não se pode
mais voltar para trás. Quando se observa a geração de agora, de 20 anos,
eles não conseguem nem lembrar, aliás, nem conseguem saber o que é o
mundo sem internet.
Mas ela ainda é excludente, claro que é
excludente, e se você quiser expandir a democracia política no país, tem
de ter banda larga pra todo mundo e com preço acessível, mas tem de ser
uma política de Estado. Já devia haver uma diretriz nesse sentido,
porque o acesso às comunicações no Brasil é muito caro, não só a banda
larga como a telefonia celular é extremamente cara para uma qualidade
ruim, a relação qualidade-preço é absurda, e isso revela que existe
muito caminho para ser trilhado aqui. É preciso garantir o acesso para a
população, mas também trabalhar a educação digital dessas pessoas. O
mais importante é abrir canais novos, e o potencial que a pessoa tem na
periferia encontra uma maneira de realizar aquilo, não se torna só um
consumidor de uma cultura que vem de cima para baixo. É uma diferença
enorme. E até a dependência em relação à mídia velha vai sendo cada vez
menor."
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